Carta 44: Pare de adubar namoros de merda para não colher casamentos de bosta
Sobrevivente, há uma frase de minha autoria que queria, hoje, nesta singela carta, apresentá-la a você:
💡Quem planta merda, colhe bosta!
Eu sei, ela não é de uma beleza Shakespeariana e nem tão profunda quanto um parágrafo de Olavo de Carvalho, mas ela tem a agudeza rodrigueana, ou seja, em poucas palavras se diz tudo.
E ela pode servir para muitas coisas na vida, desde hábitos cotidianos imorais que o sujeito leva a pão de ló até namoros terríveis que já deveriam ter sido finalizados há tempos.
E hoje quero me ater nesse último ponto: nos namoros de merda que, lá na frente, se tornarão casamentos de bosta.
Semana passada atendi um rapaz jovem que já é meu paciente há algum tempo. E nessa última sessão, ele estava angustiado com algumas decisões que teria de tomar. A primeira seria sobre mudar de cidade, ir para outro Estado, sair da casa dos pais. A segunda seria sobre como resolver seu namoro, que há tempos vinha naquele chove-não-molha.
E esse namoro era o que mais atrapalhava também na primeira decisão: “Se mudar ou não se mudar para outra cidade?”
Diferente de outros terapeutas, muitas das vezes eu vasculho a vida dos meus pacientes nas redes sociais, mas é sempre por um bom motivo. Ali, no Instagram, por exemplo, por já ter um certo conhecimento de simbólica, psicologia e, claro, das próprias redes sociais, consigo identificar muitas coisas. Ora, o padrão de fotos que o sujeito posta, o que ele segue, o que ele consome, como ele escreve, como ele se vê etc.
A gama de símbolos é enorme para ajudar no setting terapêutico.
“Ai, Guilherme, mas a maioria das pessoas não vivem aquilo que postam nas redes sociais.”
Sim, mas isso já é mais uma pista de como elas queriam viver. Além do mais, para quem tem o olhar mais treinado, mesmo que a pessoa só faça pose nas redes sociais, é possível perceber muitas das motivações das pessoas; e, percebendo motivações, é possível também perceber suas dores.
Enfim, com esse paciente não foi diferente. O segui nas redes sociais e passei a acompanhar, vez ou outra, sua vida virtual enquanto o acompanhava no consultório.
E eu vejo quando estou diante de um homem bom, que está tentando acertar. Que era o caso desse meu paciente, que inclusive usa as redes sociais como ferramenta de trabalho.
Ele namorava até semana passada; e, vez ou outra, o namoro se tornava pauta da nossa terapia. Ele, por ser um guri novo, muitas vezes demonstrava insegurança no relacionamento, o que culminava numa tentativa de distanciamento por parte de sua namorada.
É aquela história: o guri, por se sentir inseguro consigo mesmo, ficava em cima dela, pelo Whats, ligação, viajava nos finais de semana até a cidade da moça etc.
Conversamos muito sobre isso e ele compreendeu que agir assim só ia piorar a situação com a namorada, pois ela se afastaria cada vez mais; e era o que estava acontecendo.
E ele se atentou a isso e realmente passou a melhorar, porém, o namoro continuava naquele chove-não-molha. Mas ele seguia ali, adubando a relação como podia e como tínhamos combinado até então.
Um dia, nas minhas pesquisas terapêuticas, resolvo analisar o perfil da namorada dele, e de cara, concluí: “Solteira. Perfil de mulher solteira.” Todas as fotos mostravam apenas ela. Era um império do eu absurdo. Não havia uma mísera fotinho com o namorado, nem nas fotos do feed e nem nos destaques.
Na última sessão, ele me veio com aquelas indagações que citei no início desta carta. É claro que eu trouxe o assunto do perfil da namorada à tona: “Meu caro, entrei no perfil dela e não há vestígio algum que ela tem um namorado. E, pelas coisas que você já me falou, posso te afirmar que ela não o enxerga como o homem dela.”
Ao que ele me disse: “Sim. Essa questão dela não postar fotos da gente nas redes sociais, segundo ela é porque o que importa não precisa estar no Instagram, que não ter fotos comigo não tem nada a ver.”
Isso é mentira para 99% das pessoas.
Normalmente, quem namora mas tem um perfil nitidamente de solteira(o), não disse “sim” ao relacionamento. Sabe por quê? Porque elas não querem perder a “badalação” da vida de solteiro. Isso é muito forte, principalmente nas mulheres de hoje.
Já imaginou ela postar uma foto contigo, assumindo publicamente que tem um namorado?! Ela vai perder seguidores, curtidas, cantadas, atenção… vai perder as chances de encontrar um homem de verdade, pois é nítido que ela não vê o namorado como um, caso contrário não agiria assim.
“Então por que ela continua no namoro?”
Porque um namoro de bosta — para ela — é melhor do que nada, pois há um mínimo de segurança e estabilidade. Há alguém ali que, mesmo ela não o vendo como o seu homem, há uma intimidade, há um colo quando se precisa chorar, há alguém para abraçar quando a tristeza bater, há alguém que fica querendo a atenção dela e tentando a agradar.
A mulher só vai pular fora de uma relação assim por um motivo: quando ela realmente achar outro homem pelo qual ela se apaixone, para então se soltar de um e se agarrar a outro. No mais, ela vai levando com a barriga até aparecer de fato outro homem.
Ambos sofrem muito em namoros assim, principalmente o cara, que tende a ficar cada vez mais inseguro na relação e, de lambuja, passa a agir como uma mulher: fica atrás de segurança e estabilidade.
Nesses casos, nesses namoros de bosta, normalmente quem deveria tomar a atitude de parar de adubar essa merda para que no futuro não colha bosta, seria o homem.
E foi exatamente o que eu ajudei esse meu paciente a fazer: a terminar um namoro de merda para que não se chegue a um casamento de bosta.
Já passei por isso. Levei um namoro terrível por quatro anos. Agradeço a Deus por não ter casado com a moça. Queria eu ter conhecido um homem, à época, ali no primeiro ano de namoro que conseguisse ler a realidade pra mim e então dissesse: “Cara, chega! Cai fora daí. Vai viver a vida. Vai fazer coisas. Vai adquirir mais experiência. Essa mulher não te vê como o homem dela… e dificilmente isso vai acontecer no futuro. Namoro foi feito para acabar mesmo!”
Foi o que disse para o meu paciente. Ele agradeceu e compreendeu muito bem.
Assim ele matou dois coelhos com uma cajadada só: terminou o namoro e, como ele não tinha mais um “porquê” em ficar por aqui, decidiu se mudar para outro Estado, para uma cidade que ele realmente queria morar… melhor ainda: sairia debaixo da asa dos pais. Todo homem precisa ir para o mundo e cortar o cordão umbilical com os pais.
Então, nesta semana, recebo esta mensagem dele:
Eu até me emociono!
Por hoje é isso, sobrevivente.
Grande abraço.
Guilherme Angra
Quem dura mais, vence!